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Angústia sustentável e insustentável

A presença dos computadores entre nós vai trazer insistência sobre o tema da imanência simbólica. Uma definição possível: os sistemas computacionais são configurações maquínicas, na medida em que a questão da autorreferência se coloca, irredutível. A questão dualista da distinção entre agente e objeto da ação remete à sugestão de que o universo é um redemoinho. Não há inovação computacional, propriamente. Onde há semiótica, há computação, e vice-versa, desde que se abandone, no plano ético, a expectativa da representação. As bactérias são, literalmente sistemas computacionais. Os ecossistemas da produção de software são, literalmente (nem mesmo “por outros meios”), uma continuação da vida.

Sistemas computacionais visíveis e invisíveis: no tempo tradicional, os objetos se deixavam simbolizar (até mesmo sacralizar), eles eram veículo dos símbolos. O que temos hoje, no regime dos objetos computacionais, é que as interfaces e os protocolos é que se deixam simbolizar. Com a economia já era assim, com o dinheiro, e depois com o capital. Agora, essas coisas se tornaram microscópicas, estão por toda a parte. O micro e o macro se comunicam.

Eis algo que coincide com origem da angústia insustentável, que é o convite a decidir, concretamente, entre Ser e não-Ser. Eis porque insustentável. Ora, a angústia, como manifestação do sintoma, já levava os desterritorializados ao consultório psicanalítico, ou a outros lugares de tratamento, mas isso no limite da ineficácia simbólica, da crise do mito individual, e do indivíduo mítico. No geral, a angústia era afeto organizador da massa como forma provisional do laço social. A angústia era – e ainda é – aquilo que permite dizer “nós todos”. Os bárbaros não precisam dizer “nós todos”, menos ainda os selvagens. Só os civilizados. A sua é a angústia sustentável, a que situa o seu paciente na posição paradoxal da inexistência estável. Não mais. Seria então o caso do retorno a um certo existencialismo, como forma de abrir o cadeado dessa armadilha, desse “nós” inercial que ainda persiste residual, desse senso comum que se cria em torno da auto-anulação como estratégia, e então, devir.

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